Arranjem 10 pessoas, entusiastas por teatro e por demais artes alternativas; Busquem um tema solto ao vento, algo que tenham ouvido ao atravessar uma passadeira ou algo que tenham visto num cartaz meio rasgado; Juntem doses generosas de imaginação; agora peguem nessa mistela e trabalhem-na, estiquem-na, dobrem-na e levem-na até ao extremo da ruptura.
Depois, vão acabar por descobrir erros, incorrecções: é só questão de corrigir, alterar pequenas partes, pequenos movimentos, acrescentar ideias que vos surgem no banho, no jantar, ou até mesmo num sonho sobre uma recordação infantil.
Agora só falta o ingrediente secreto...Para fazer juz ao nome, não vos direi, mas esta é a base da performance que o Grupo de Teatro Antígona fez (já em 5 representações - mais virão), grupo do qual faço parte, de corpo e alma!
Esta performance distancia-se totalmente de qualquer representação teatral a que a generalidade do público está habituada, aliás como têm vindo a ser os últimos trabalhos do grupo.
O tema base é o Ano Polar Internacional: para quem não sabe, este ano é o Ano Polar Internacional, ano no qual se farão imensas coisas no sentido de alertar a população deste nosso planeta sobre questões ambientais, principalmente no que toca aos polos.
Ora, o que os Antígonas fizeram foi aproximar os polos de todos nós. Pensámos que a razão pela qual a grande maioria das pessoas não liga às questões dos polos é devido à enorme distância física que existe, entre as pessoas e os ditos cujos. Então, elaborámos uma performance intimista, na qual todos (actores e público) sobem ao palco. Nós, "actores", sentamo-nos em roda, com o público à nossa volta. Isto tudo passa-se numa "tenda" branca, na qual pretendemos representar o mundo, todo de branco pois o tema são os polos; nesta "tenda" é que se dá a performance, toda ela a não mais do que um braço de distância do público.
Assim, fazemos ver a todos que os polos estão bem mais próximos do que pensamos: eles estão em cada fio do nosso cabelo, assim como todo o mundo está no nosso corpo, assim como o nosso corpo é parte integrante do mundo. Queremos transmitir a ideia que não há massas separadas, pois o que afecta o mundo, afecta-nos a nós também, e basta uma pequena parte do mundo ficar negra, para mergulharmos todos numa escuridão desesperante.
As representações correram muito bem, especialmente (para nossa surpresa) a parte final, na qual existe uma interacção com o público: oferecemos ao público o branco e envolvêmo-lo numa canção que deu o nome à peça: Auani.
Obrigado aos que foram ver, aos que foram e gostaram e aos que gostariam de ir! Uma coisa é certa, ninguém fica indiferente a esta performance, amando-a ou odiando-a.